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Humanidade e não-humanidade no pensamento ameríndio

Minicurso

Pretende-se apresentar um conjunto de ideias ameríndias, principalmente amazônicas, acerca da relação entre humanidade e não-humanidade, a fim de discutir o sentido filosófico da tese antropológica geral que Eduardo Viveiros de Castro formula para resumi-las: “Na Amazônia, é a aliança com o não-humano que determina as 'condições intensivas do sistema'”. Para tanto, procurar-se-á reconstruir uma multiplicidade própria ao pensamento amazônico, garantida pelo estudo de diversas etnografias. Elas revelam, de diferentes modos (por vezes, divergentes), que o sentido do humano na América indígena depende, sobretudo, do complexo não-humano ao qual se encontra constitutivamente vinculado – e isso a ponto de a diferença entre humanidade e não-humanidade consistir aí, antes que em uma separação substancial ou essencial, em uma distinção entre aspectos ou perspectivas dos “mesmos” sujeitos e pessoas cósmicas; trata-se do assim chamado “perspectivismo cosmológico ameríndio”. Nesse contexto espiritual, como evidencia exemplarmente o discurso de Davi Kopenawa, a complexidade do não-humano é configurada pela diferença entre animais e espíritos enquanto diferença “interna ou intensiva” (Viveiros de Castro) aos próprios “humanos”. Percorrendo esse itinerário etnográfico, tentar-se-á preparar uma consideração comparativa sobre a equivocidade do humano no plano da divergência ontológico-política entre o “antropomorfismo” ameríndio, exemplificado por diferentes variações do perspectivismo cosmológico, e o “antropocentrismo” moderno, representado especialmente pelo cosmopolitismo kantiano e pela ontologia fundamental de Heidegger.

Data: 05 a 06/08/2014

Coordenador: Prof. Dr. Wagner Dalla Costa Félix