CRIAR COMO UM ANIMAL? ARTE E ANIMALIDADE NA FILOSOFIA DE MERLEAU-PONTY.

Este trabalho estabelece uma zona de fronteira entre a biologia, a fenomenologia e a arte, a partir de um ponto em comum, que é a natureza do animal. Embora este conceito receba tratamento diferenciado nestas disciplinas, é possível pensar o diálogo entre filosofia, arte e ciência uma vez que levam em consideração um conceito complexo e interdisciplinar. A questão da animalidade, no pensamento de Merleau-Ponty, é apresentada, mas não é desenvolvida devido à morte prematura (o curso sobre a natureza é de 1957-60, Merleau- Ponty morreu em 1961). Encontramos em Étienne Bimbenet, importante comentador de Merleau-Ponty, o desenvolvimento necessário para o aprofundamento deste tema. A questão que intitula o trabalho - Criar como animal? - mobiliza uma problemática que parte da biologia, apresentada no capítulo primeiro deste trabalho, e da fenomenologia, considerada no segundo capítulo. Trata-se de dois lugares em que esta questão ganha relevo. A interrogação é conduzida de forma a estabelecer em que medida as disciplinas se complementam. O fundamento desta problemática está na relação de contiguidade entre a inerência vital e a intuição racional que participam, de forma estrutural, do fenômeno humano. No animal homem, os princípios racionais geram um novo ser cuja linguagem conceitual e simbólica os diferencia de outros seres. A faculdade intelectual e imaginativa, no entanto, promove a pulsão animal e caracteriza a indissociação entre o animal e o racional. Com o postulado do capítulo um - Criar como um animal? Biologia e fenomenologia - Importa-nos a interpretação da biologia evolutiva, na forma de um resgate, associada aos parâmetros do filósofo sobre a transição da ordem vital à ordem humana, onde a manifestação do fazer artístico se insere no contexto vital/humano como narrativa da hominização. No capítulo dois - Criar como o animal? Fenomenologia e arte - Nos comprometemos com a contribuição da fenomenologia merleau-pontyana associada ao que se manifesta do fazer artístico e seu valor poético inscrito na percepção corporal. Por fim, o capítulo três, intitulado Criar com o animal? Ou, o animal da arte? descreve a forma como a origem animal humana e a manifestação artística contribuem para o fazer artístico contemporâneo que, por meio do sentido perspectivista de Umwelt, inaugura a interpretação da arte em performances que vivem e objetivam a animalidade. A origem da pergunta do tipo “Criar como...?”, ressignificada ao longo desta dissertação, está no que encontramos sobre as capacidades do corpo, enunciado pelo filósofo e no qual repetimos o questionamento, em reverberação distorcida. Esta ressonância apresenta caminhos próprios, diferenciados e/ou convergentes, que revelam os possíveis da arte.

This work establishes a border zone between biology, phenomenology and art, from a common point, which is the animal nature. Although this concept has differential treatment in these disciplines, it is possible to think the dialogue between philosophy, art and science since they consider a complex and interdisciplinary concept. The animality task, is presented on Merleau-Ponty thinking, but is not developed due to premature death (the course on nature is from 1957-60, Merleau-Ponty died in 1961). We look for Étienne Bimbenet, an important Merleau-Ponty's interpreter, the necessary development to deepen this theme. The question - Create as animal? - mobilizes a problematic that starts from the biology, presented in the first chapter of this work, and the phenomenology, considered in the second chapter. These are two places where this issue is highlighted. The question is conducted to establish the means where these disciplines are complemented.  The problem  basis  lies  on  contiguity between  vital  inheritance  and rational intuition, that includes a structural form to the human phenomenon. In the human animal, rational principles generate a new being where conceptual and symbolic language differentiates them from other beings. Intellectual and imaginative faculty, however, is promoted by animal desire and characterizes animal and rationality indissociation. In chapter one - Create as an animal? Biology and phenomenology - we aim to the interpretation of evolutionary biology, a kind of review, associated with the philosopher's parameters on the transition from vital order to human order, where the manifestation of artistic creation process is insert on vital / human context, as a hominization narrative. In the chapter two - Create as the animal? Phenomenology and art - we commit on Merleau- Ponty's phenomenology when what is manifested in the artistic work and its poetic value is inscribed in the body perception. Ultimately, in chapter three, entitled Create with the Animal? Or, the animal of art? describes the way in which human animal origin and artistic expression contribute to the contemporary artistic work and, through Umwelt's perspective, allows an interpretation of art within performances that lives and objectifies animality. The origin of this kind of question, this "Create as ...?" question, which has been rephrased throughout this dissertation, lies in what we find about body capacities, enunciated by the philosopher and, we repeat, in distorted questioning reverberation. This resonance presents own, differentiated and / or convergent paths, that reveal art possibilities.

Merleau-Ponty; Animality; Artistic make; Umwelt; Evolution.

Silva, Aletheia Alves da. Criar como um animal? Arte e animalidade na filosofia de Merleau-Ponty. Universidade Estadual de Maringá, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes. Maringá, 2018.